Na sessão dos Encontros Nacionais organizados pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), que decorreu no Funchal na passada semana, os jornalistas, estudantes e académicos presentes, além de procurarem ver esclarecidas questões relacionadas com o acesso à profissão, deveres de natureza ética e deontológica, manifestaram a preocupação pelo facto de alguns deles, se violados pelos jornalistas, não estarem sob a alçada de um procedimento disciplinar, nem qualquer outro tipo de sanção a ser aplicada pela entidade reguladora da atividade.
Os profissionais madeirenses dizem-se apreensivos com o rumo que está a tomar o Jornalismo. Os novos formatos de órgãos de comunicação social que têm vindo a surgir levantam-lhes, em alguns casos, muitas dúvidas. Desde logo, dizem não compreender como é que, alegadamente, se faz jornalismo sem jornalistas. Como é que alguém, no seu livre direito constitucionalmente consagrado de criar e registar uma qualquer publicação, considera que pode publicar conteúdos de natureza diversa e criados à margem de princípios éticos e deontológicos, exigindo depois serem aceites como jornalistas, que assumem ser, sem que sejam detentores, nem reúnam condições e ou requisitos legais, da acreditação profissional exigida para o desempenho das funções desta atividade regulada.
Os dois membros do Secretariado da CCPJ, Licínia Girão e Paulo Ribeiro, que se deslocaram ao Funchal (o terceiro, Jacinto Godinho, participou em mais este diálogo itinerante por teleconferência) reuniram também com representantes da Delegação Regional do Sindicato dos Jornalistas. Marta Caires, membro da direção do SJ, além de partilhar as preocupações com as questões laborais que com a queda, cada vez mais acentuada, das vendas e assinaturas dos jornais tradicionais e a ausência de vontade por parte dos consumidores da informação para pagarem por notícias, são ainda mais vulneráveis, salientou ainda o facto dos jornalistas da Ilha terem de ser incentivados e apoiados para fazerem formação no continente. Refere que a partilha de conhecimentos, a troca de ideias e a apresentação de sugestões, que possam contribuir para a defesa dos jornalistas e do jornalismo, têm de ser pensadas a nível nacional. Reconhece que a realidade dos portugueses ilhéus é, necessariamente, diferente dos continentais, e o próprio exercício da atividade jornalística tem características próprias. No entanto, defende que o jornalismo, é jornalismo em qualquer parte do país, os jornalistas estão vinculados a um mesmo Estatuto, além de que há questões e preocupações que são transversais a todos.
A presidente da CCPJ, Licínia Girão e o vogal do Secretariado, Paulo Ribeiro, foram ainda recebidos pelo administrador do JM Madeira nas instalações do jornal. Com a particularidade de ter uma equipa de jornalistas que continua diariamente a trabalhar para fazer chegar o jornal em papel diretamente às populações (refira-se que o JM Madeira ainda é distribuído porta a porta durante a madrugada por toda a Ilha), Agostinho Silva manifestou a sua preocupação com o facto de não estar a ser fácil terem que se reinventar quase diariamente perante, por exemplo, o aumento dos custos de produção (nomeadamente do papel) ou ainda para acompanhar os novos hábitos de consumo no que respeita à informação jornalística. Considera que, se por um lado, existem linhas vermelhas que não podem ser, de forma alguma, pisadas, por outro, é necessário (re)pensar atividade jornalística, nomeadamente procedendo a alterações legislativas que permitam garantir não só a viabilidade económica dos projetos, mas a continuidade e sobrevivência do jornalismo.
No essencial, a mesma ideia foi defendida por Ricardo Oliveira, diretor executivo do Diário de Notícias da Madeira. Em visita às instalações do jornal no dia em que este completou 147 anos, o momento foi também aproveitado para a partilha de preocupações e dos anseios dos jornalistas que diariamente, além de conscientes de que não podem perder o foco nos princípios, fins e natureza do jornalismo, ainda têm que combater a iliteracia para os media, a desinformação (fake news no geral), as dificuldades no acesso às (verdadeiras) fontes, as pressões das mais diversas natureza, e a cada vez maior disseminação de diferentes conteúdos produzidos à margem das regras e deveres que regem a atividade jornalística.
Os membros da CCPJ presentes no Funchal reuniram ainda com o jornalista Miguel Guarda, diretor de três rádios locais madeirenses e vice-presidente da ARIC, que partilhou igualmente a grande dificuldade para a manutenção destes órgãos de comunicação social, face ao agravamento da conjuntura económica ano após ano, o que tem reflexos negativos também para o jornalismo.
A sessão dos Encontros da CCPJ no Funchal contou com o apoio do jornalista Miguel Guarda, também antigo membro do Plenário da CCPJ, que foi responsável pela receção e acompanhamento dos membros da CCPJ nas visitas efetuadas aos órgãos de comunicação social da Ilha, contou ainda com a dedicação de Samuel Mateus, diretor do 1º ciclo em Comunicação, Cultura e Organizações, do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, que cuidou de toda a logística.
A CCPJ conta ainda, no âmbito destes encontros descentralizados por todo o território nacional, com o apoio Associação Portuguesa de Imprensa, Associação Portuguesa de Radiodifusão, da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã, Associação de Rádios de Inspiração Cristã e Sindicato de Jornalistas na promoção e divulgação dos Encontros.
O Plenário da CCPJ