Decorreu na passada sexta-feira, na Universidade de Aveiro, a 8.ª sessão dos Encontros Nacionais da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista sob o tema “Pensar o Jornalismo com os Jornalistas. A digitalização dos media”. Com transmissão em direto na rádio TerraNova e no canal YouTube da Academia, a sessão, que contou ainda com o apoio do Aveiro Media Competence Center, centrou grande parte do debate em questões ligadas aos desafios que enfrentam os jornalistas com a digitalização dos media.
Numa Era em que parece não existir passado, quase nem mesmo presente, só o instantâneo e em que a informação é debitada ao segundo, umas das preocupações realçadas foi a de se efetivamente essa informação está a ser validada por jornalistas. João Morais Palmeiro, diretor do Aveiro Media Competence Center, destacou o facto de, por exemplo, nunca como agora um artigo poder ser lido por tantos consumidores de informação e a um nível global. O que se escreve em francês pode ser lido em português e vice-versa. Mas, como se garante que essa informação foi escrutinada e por quem? Todos os presentes foram unânimes em considerar que a credibilidade, isenção e rigor só poderá ser garantida por profissionais habilitados e especializados, como defendeu João Morais Palmeiro, mas também Nelson Zagalo, da DigiMedia. Ou seja, jornalistas que além da sua formação de base deveriam de ter um conhecimento especializado nos assuntos que abordam para que a informação que chega aos consumidores seja o mais fidedigna possível.
Ficou ainda claro que a profissão de jornalista é fundamental para defesa e manutenção da Democracia. E que por muito que evolua a inteligência artificial, pelo menos num futuro próximo, como realçou Nelson Zagalo, “não se pode tirar o humano do sistema”, adiantando que “para já não antecipo a automatização total”.
O receio manifestado pelos membros da CCPJ presentes, Licínia Girão e Luís Mendonça, é de que tanto os jornalistas como os operadores do setor, não estejam a aproveitar a conversão digital inevitável e permanente que os media têm que efetivar para que os conteúdos que estão a ser produzidos, divulgados e transmitidos, não o sejam com o propósito de levar o consumidor a receber uma representação dos factos depois de tratados e que depois deveriam de ser usados para construir opiniões, mas sim já fabricados como representações de ideias, opiniões, produtos ou serviços, com o objetivo de formatar os consumidores e de por eles fazer escolhas.
Levando a que as notícias que consumimos passem a ser só as que pensamos que gostamos, passando a estarmos fechados em bolhas. Ficarmos perante o que poderemos designar por capitalismo de vigilância, acabando moldados e a consumir aquilo que os algoritmos escolherem por nós.
O direito a informar não se restringe a nada. E quando se restringir, seja a escolhas feitas pelos jornalistas ou por algoritmos, em causa estará a Democracia.
Organizados a pensar nos jornalistas, estudantes de jornalismo e das áreas da comunicação social e novas tecnologias da comunicação, docentes e investigadores, os Encontros nacionais têm vindo a ser levados a cabo pela CCPJ com o objetivo primordial de apresentar a missão da CCPJ e refletir sobre o que significa ser detentor de um título profissional, os direitos e deveres que estão subjacentes ao exercício da atividade jornalística e o que representa ser jornalista.
Estão previstas vinte sessões dos Encontros da CCPJ, uma por distrito do continente, uma na Madeira e outra nos Açores, onde pelo menos dois dos nove jornalistas que compõem atualmente o Secretariado e Plenário da Comissão se disponibilizam, por um lado, a apresentar o organismo e falar sobre as suas competências e funcionalidades. E, por outro, partilhar experiências adquiridas enquanto jornalistas e no exercício das funções que desempenham na CCPJ, entidade independente de (co)regulação dos jornalistas.
Refira-se ainda a propósito que a CCPJ abriu um período de consulta aos jornalistas sobre as leis que regem a profissão e os meios em que a desenvolvem. Até 27 de maio próximo, a CCPJ vai estar aberta a sugestões para futuras alterações legislativas que este organismo independente de direito público irá propor ao Governo e à Assembleia da República, sendo também estes encontros um local propício à reflexão e partilha de ideias no que respeita a estas matérias.